Acordei, levantei-me, abri o estore, puxei as cortinas rosa pálido para a esquerda e para a direita, cocei o nariz, alisei o cabelo e entre pestanejos vi o pó incandescer à luz do sol em rota descendente e circular sobre o bichinho (nome carinhoso do asus cinzento escuro, companheiro de longas noites e cansativos dias dos últimos quatro anos).
Está velhinho. Não digo velho porque me compadecem as marcas do trabalho árduo a que o submeto. Tem algumas marcas de verniz, aqui e ali, alguns arranhões dos botões das mangas do casaco no inverno, algumas peças partidas que por serem de plástico não aguentam muito trato. Ainda assim, está perto, o bichinho mora no meu coração (coisa bizarra de se dizer de um aparelho electrónico, mas é verdade). Todos os meus discos e pens têm nome. O mais recente é o operário e toma conta de todos os pequenos que compõem os álbuns de casamento que faço. É com ele e com o bichinho que passo o tempo enquanto não arranjo um estágio nem um emprego simpático na minha área.
Passei os dedos pelo teclado poeirento do bichinho e liguei a samsung, mesmo ao lado, nos bonequinhos da dois. Deslizei os pés nas ovelhas à chuva, os braços pelo abraço quente do robe multicor do meu irmão e comi bolo na cozinha. Ontem foi noite de aniversário aqui em casa.
A rotina, mais ou menos sempre igual nestes dias, foi-se desenrolando como é hábito e depressa voltei ao bichinho, ainda deitado à luz do sol. Sentei-me frente a frente, o sol a intrometer-se e a aquecer-me, a tentar levantar as pestanas de perna cruzada. Levantaram-se a custo e antes ainda de levarem a mão ao botão, desdobraram-se em centímetros pelo espaço disponível para receber a nova adopção. É o suficiente.
Alguns cálculos e projecções mentais depois, montei nas costas da raposa, agarrei-me ao pêlo do cachaço e partimos. Não preciso das esporas para a guiar. Ela sabe onde ir. Para cada sítio uma janela na mesma casa. Email, blogs, livro das faces, loja mac e promoções fnac de natal alinhados á moda índia.
Alguns minutos. Ontem doeu-me a cabeça. Estive indisposta. Foi noite de aniversário cá em casa (2). A neurastenia! Lembrei-me.
neurastenia
(neuro- + astenia)
Tenho blogs como quem tem cadernos de apontamentos. São um vício terrível. Quer uns quer outros. Tenho cadernos espalhados por toda a casa, de várias cores e espessuras, de argolas e agrafos. Quase todos a4, ora magrinhos, despidos de páginas, ora anafados, enfeitados de acessórios de outras árvores. O mesmo vai para os blogs, os da faculdade, quer de Jornalismo quer de Audiovisual estão parados, já há muito que o tempo se instalou e a água está parada. O de projectos manuais, hibernado por enquanto. O de fotografia de moda e arte, está quase a retornar das férias.
E este. Este uma vaga memória. Decidi reavivá-la. Passei os olhos pela página de entrada. E ri-me. E foi com vontade. Manifestação sonora e pastilhas de esmalte.
Olha-me questa. Quem ler esta página de entrada há-de achar que sou a creatura mais infeliz à face da terra, daquelas miseráveis, deprimidas.
Como não sou, decidi colocar umas breves palavras para comunicar que tenho uma vida cheia de inúmeras facilidades e coisas boas, que tenho sorte, e que estou bem, ou melhor, sou bem (soa mal, mas é um estado constante o estar bem, e o estar soa amiúde transitório).
Novamente as pastilhas ao ar.
Em breve o bichinho vai entrar na reforma. Vai ter apenas mimos e carinhos. Ser responsável pelas coisas boas que me levam aos sorrisos e ao relaxar dos ombos. Não mais pescoço tenso, dedos pesados nem olhos raiados a sangue. Vão ser só coisas boas bichinho. Está prometido.
:)
Está velhinho. Não digo velho porque me compadecem as marcas do trabalho árduo a que o submeto. Tem algumas marcas de verniz, aqui e ali, alguns arranhões dos botões das mangas do casaco no inverno, algumas peças partidas que por serem de plástico não aguentam muito trato. Ainda assim, está perto, o bichinho mora no meu coração (coisa bizarra de se dizer de um aparelho electrónico, mas é verdade). Todos os meus discos e pens têm nome. O mais recente é o operário e toma conta de todos os pequenos que compõem os álbuns de casamento que faço. É com ele e com o bichinho que passo o tempo enquanto não arranjo um estágio nem um emprego simpático na minha área.
Passei os dedos pelo teclado poeirento do bichinho e liguei a samsung, mesmo ao lado, nos bonequinhos da dois. Deslizei os pés nas ovelhas à chuva, os braços pelo abraço quente do robe multicor do meu irmão e comi bolo na cozinha. Ontem foi noite de aniversário aqui em casa.
A rotina, mais ou menos sempre igual nestes dias, foi-se desenrolando como é hábito e depressa voltei ao bichinho, ainda deitado à luz do sol. Sentei-me frente a frente, o sol a intrometer-se e a aquecer-me, a tentar levantar as pestanas de perna cruzada. Levantaram-se a custo e antes ainda de levarem a mão ao botão, desdobraram-se em centímetros pelo espaço disponível para receber a nova adopção. É o suficiente.
Alguns cálculos e projecções mentais depois, montei nas costas da raposa, agarrei-me ao pêlo do cachaço e partimos. Não preciso das esporas para a guiar. Ela sabe onde ir. Para cada sítio uma janela na mesma casa. Email, blogs, livro das faces, loja mac e promoções fnac de natal alinhados á moda índia.
Alguns minutos. Ontem doeu-me a cabeça. Estive indisposta. Foi noite de aniversário cá em casa (2). A neurastenia! Lembrei-me.
neurastenia
(neuro- + astenia)
s. f.
Med. Neurose com enfraquecimento da força nervosa, perturbações mentais do tipo tristeza, apatia e, muitas vezes, com indisposições físicas como dores de cabeça, perturbações digestivas, etc.
Tenho blogs como quem tem cadernos de apontamentos. São um vício terrível. Quer uns quer outros. Tenho cadernos espalhados por toda a casa, de várias cores e espessuras, de argolas e agrafos. Quase todos a4, ora magrinhos, despidos de páginas, ora anafados, enfeitados de acessórios de outras árvores. O mesmo vai para os blogs, os da faculdade, quer de Jornalismo quer de Audiovisual estão parados, já há muito que o tempo se instalou e a água está parada. O de projectos manuais, hibernado por enquanto. O de fotografia de moda e arte, está quase a retornar das férias.
E este. Este uma vaga memória. Decidi reavivá-la. Passei os olhos pela página de entrada. E ri-me. E foi com vontade. Manifestação sonora e pastilhas de esmalte.
Olha-me questa. Quem ler esta página de entrada há-de achar que sou a creatura mais infeliz à face da terra, daquelas miseráveis, deprimidas.
Como não sou, decidi colocar umas breves palavras para comunicar que tenho uma vida cheia de inúmeras facilidades e coisas boas, que tenho sorte, e que estou bem, ou melhor, sou bem (soa mal, mas é um estado constante o estar bem, e o estar soa amiúde transitório).
Novamente as pastilhas ao ar.
Em breve o bichinho vai entrar na reforma. Vai ter apenas mimos e carinhos. Ser responsável pelas coisas boas que me levam aos sorrisos e ao relaxar dos ombos. Não mais pescoço tenso, dedos pesados nem olhos raiados a sangue. Vão ser só coisas boas bichinho. Está prometido.
:)