Friday, January 04, 2008

Dr. Erich Salomon

"Um Domingo, estava eu sentado na esplanada de um restaurante nas margens da Spree, quando rebentou uma violenta tempestade. Alguns minutos mais tarde chegou um vendedor de jornais que me contou que o ciclone tinha arrancado árvores e que uma mulher tinha morrido. Tomei então um táxi e alertei um fotógrafo. Seguidamente propus estes documentos exclusivos à casa Ullstein. Deram-me 100 marcos por eles. Dei 90 marcos ao fotógrafo e disse para comigo que mais valia ter sido eu mesmo a fazer as fotografias. No dia seguinte comprei uma máquina."

"A actividade de um fotógrafo de imprensa que quer ser mais do que um artesão é uma luta continua pela sua imagem. Tal como o caçador está obcecado pela sua paixão de caçar, também o fotógrafo está obcecado pela fotografia única que quer obter. É uma batalha contínua. É preciso lutar contra os preconceitos que existem por causa dos fotógrafos que continuam a trabalhar com flashes; lutar contra a Administração, os empregados, a polícia, os guardas; contra a má luz e as grandes dificuldades em fazer fotografias de pessoas que estão em movimento. É preciso apanhá-las no momento preciso em que elas estão imóveis. Depois, é preciso lutar contra o tempo, pois cada jornal tem um deadline ao qual é preciso antecipar-se. Antes de tudo o mais, um repórter fotográfico deve ter uma paciência infinita, e não se enervar nunca; deve estar ao corrente dos acontecimentos e estar a tempo e horas onde é que irão desenrolar-se. Se necessário, devemos servir-nos de toda a espécie de astúcias, mesmo se elas nem sempre são bem sucedidas."

"Quando, no Verão de 1929, cheguei à primeira Conferencia de Haia, soube que os ministros Henderson, Stresemann, Briand, Wirth e o ministro belga dos Negócios Estrangeiros Hymans costumavam encontrar-se, às quatro horas de cada tarde, na varanda do Grande Hotel Scheveningen. Como não consegui obter permissão para fotografar no interior da varanda, restava-me fotografar esses encontros a partir do exterior. A varanda encontrava-se a dezasseis metros de altura, por cima de uma garagem, em frente da qual apenas havia a praia e o mar. Não havia uma casa em frente. Decidi-me a alugar uma escada de incêndio sobre rodas, de dezanove metros, e pedi emprestado aos homens que a acompanhavam uma camisa branca, um balde e um pincel, no intuito de fazer crer à Polícia holandesa que ia repintar um anúncio publicitário. A minha intenção era fazer-me içar com a ajuda dessa escada e fazer, a uma distância de doze metros e o mais rapidamente possível, uma fotografia dos diplomatas no cimo dessa histórica varanda. Para grande decepção minha, o chefe da equipa declarou-me que iria ser preciso, em primeiro lugar, fazer subir a escada e fixá-la com cordas antes que eu pudesse subi-la. Finalmente, quando ela já estava no lugar, a sua inclinação era tão abrupta que eu teria caído caso tivesse que utilizar ambas as mãos para fazer a fotografia. Tive portanto de mandar inclinar a escada, mas isso parecia tão perigoso que o próprio Henderson reparou, através da janela. No preciso momento em que começava a subir, apareceu o responsável inglês para a imprensa, acompanhado de um agente secreto, que de modo categórico me ordenaram a retirada imediata da escada. No que eu fui forçado a consentir para evitar um escândalo. Nada mais me restava fazer que fotografar a escada."

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