E apetecia-me, profundamente, caminhar pelas ruas, sobre as pedras no chão, andar andar andar, colocar repetidamente um pé frente ao outro, e continuar, por ruas estreitas, por ruas vazias ou cheias, contornando o lixo, rodopiando entre as pessoas. E escrevo de olhos fechados, só com os dedos sobre o teclado, enquanto imagino e saboreio a fantasia em que me envolvo. O cansaço. O cansaço agarra-me pelas pestanas e força-me a fechar os olhos e a divagar sobre coisas e sítios e momentos que não conheço e tenho vontade de conhecer. Esticar as costas, levantar os braços, bocejar. Sentir o cansaço a despertar, a despertar-me, pelo menos durante mais uns minutos até me adormecer outra vez. O formigueiro. O formigueiro das ideias no corpo. A pedirem mais e mais e mais. A dizerem-me que ainda não é suficiente por hoje, que ainda precisam de mais. Que ainda não me posso deitar e fechar os olhos e não me mexer. A tentação de ficar, de me deixar nas ruas, a caminhar sobre as pedras no chão, a rodopiar por entre os corpos das outras pessoas em direcção a lado nenhum, só a caminhar e a ver, a olhar, a cheirar, a sentir. Pensar no que os outros pensam, adivinhar o que os outros olham, tocar no que todos tocamos. O chão. E sentar-me. E receber os raios de luz quentes do Sol através das nuvens, pelo ar. E observar as pombas a bicarem o chão, a equilibrarem-se nas patas frágeis, a dançar enquanto andam. Que divertidas são. Que necessidade. Que necessidade a de caminhar. A de ver e imaginar. De supôr. De descansar. Deixar as costas vergar sobre o seu peso. Quebrar. Que vontade. Que vontade de absorver, de entranhar, de ficar, a caminhar, pelas ruas, sobre as pedras, rodopiando entre os corpos das pessoas em redor. De me perder no anonimato da identidade de outros. Perder-me. Perder-me. Perder-me. A prisão da responsabilidade, prisão voluntária mas obrigatória. Tem de ser. E até que sabe bem.
2 Comments:
Se fosse possível dava-lhe um favorito. Só para tentar exprimir o quanto adorei.
Expressão da necessidade. Sem grandes entrelaçados nem floreados. Simples, físico, e bom.
"O formigueiro das ideias no corpo."
Excelente. Devo confessar que tinha saudades deste tipo de escrita.
Belo texto :)
E como me identifico com ele...
a porra do cansaço!...
Digo-te: ainda bem que saíste de jcc. Este 2º ano é qualquer coisa de terrorífico. Poucas disciplinas temos que tenham a ver com jornalismo. Enfim...imagina, até economia temos!
Bah...boa sorte :)
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