"Nem uma pálida luz nas janelas, nem um reflexo desmaiado nas fachadas, o que ali estava não era uma cidade, era uma extensa massa de alcatrão que ao arrefecer se moldara a si mesma em forma de prédios, telhados, chaminés, morto tudo, apagado tudo."
Somos frágeis, dependemos dos desejos e das intenções de outros, procuramos consolo na solidão dos que estão mais perdidos do que nós. Dependemos de um certo sistema de ordem, de um certo conjunto de respostas para um determinado grupo de estímulos. E não somos capazes de estar sozinhos. Não somos capazes de viver sem sentir um elo, seja ele com que for. Que teias, são estas que nos unem irremediavelmente uns aos outros? Para que servem?
Quantas loucuras somos capazes de cometer? Quanta dor capazes de suportar?
Gael Garcia Bernal Goya Toledo Emilio Echevarría
Não estamos sós. Nunca. Existem ligações profundas entre tudo e todos, nós é que ainda não lhes abrimos os olhos. É demasiado avassalador. E assusta.
A cinematografia é mind blowing. Com um aspecto visual muito diferente daquele a que estamos habituados a ver, o próprio ritmo da narrativa é muito próprio e os planos muito dramáticos. É um constante estado de ansiedade e antecipação, que são imprevisíveis. A narração off e o surrealismo dão-lhe uma textura muito diferente, a fantasia e o disparatado são simultaneamente estimulantes para a imaginação e comoventes. Maioritariamente a preto e branco a cor é utilizada para pontuar o que é, de facto chave. São problemáticas no extremo combatidas por personagens semi-heróicas e semi-vilãs. Eu fiquei maravilhada.
Mickey Rourke . Benicio Del Toro . Clive Owen . Bruce Willis
Jaime King . Brittany Murphy . Rosario Dawson . Jessica Alba
Iniciei a maratona cinematográfica. Finalmente, férias.
Apresentando... Howl's Moving Castle, de Hayao Miyazaki, adaptado da obra "Howl's Moving Castle" da inglesa Diana Wynne Jones (Castelo Andante)
É uma história sobre amor e sobre a descoberta de pertencer. Howl, o misterioso feiticeiro, cruza-se com Sophie, enquanto foge dos periogosos servos da Bruxa do Nada. Ao salvá-la, provoca a ira da feiticeira, que se vingará em Sophie, lançando-lhe um feitiço. A jovem parte, então, por terras desconhecidas, em busca da cura para a maldição. Pelo caminho encontra uma série de personagens mágicos, que por entre tantas peripécias se revelarão serem aquilo que Sophie sempre desejou. Uma família e um grande Amor. A banda sonora é lindíssima, a atmosfera inebriante e a fantasia deliciosa. Atenção aos pormenores e aos diálogos.
Permiti-me a sinceridade logo de início: não ireis gostar de mim. Os homens sentirão inveja e as damas, repulsa; não gostareis de mim agora e ainda menos à medida que prosseguir a história. Senhoras, um anúncio: encontrar-me-eis sempre pronto. Isto não é gabarolice ou opinião, mas facto clínico; a que me quiser, basta pedir. E ver-me-eis actuar e sentir-vos-ei enojadas. Um erro; é melhor para vós olhar e chegar a conclusões duma certa distância do que meter eu a cartilagem por vossas saias acima. Senhores, não desespereis; também prezo os vossos encantos e o mesmo aviso se vos aplica. Acalmai as erecções até terminar de falar, e depois, ao fornicardes, - e mais tarde ireis fornicar - sabereis ser o que espero de vós e que se me desiludirdes, quererei que forniqueis com a minha homúncula imagem retinindo em vossos testículos. Senti como era para mim, como o é para mim, e reflecti. "Foi este tremor o mesmo tremor sentido por ele?" "Conheceu ele um mais profundo?" "Ou há uma parede de desventura na qual as cabeças todas batem naquele luminoso e breve instante?" E pronto, foi este o meu prólogo. Nada em rima, nenhum protesto de modéstia; espero que tal não esperásseis. Eu sou John Wilmott, segundo Conde de Rochester, e não desejo ser apreciado por vós.
E ali jaz ele por fim, o convertido da última hora, o pio devasso. Não sei deixar ficar as coisas pela metade, pois não? Dai-me vinho e emborco-o todo, atirando a garrafa vazia ao mundo. Mostrai-me Nosso Senhor em agonia e eu trepo pela cruz e roubo os pregos para as minhas mãos. Ali vou eu, esquivando-me ao mundo, a baba caindo sobre uma Bíblia. Olho a cabeça de um alfinete e vejo anjos dançar. Então? Gostais de mim agora? ... Gostais de mim agora? ... Gostais de mim agora? ... Gostais de mim... agora?