Saturday, March 01, 2008

O Libertino.



Permiti-me a sinceridade logo de início: não ireis gostar de mim. Os homens sentirão inveja e as damas, repulsa; não gostareis de mim agora e ainda menos à medida que prosseguir a história. Senhoras, um anúncio: encontrar-me-eis sempre pronto. Isto não é gabarolice ou opinião, mas facto clínico; a que me quiser, basta pedir. E ver-me-eis actuar e sentir-vos-ei enojadas. Um erro; é melhor para vós olhar e chegar a conclusões duma certa distância do que meter eu a cartilagem por vossas saias acima. Senhores, não desespereis; também prezo os vossos encantos e o mesmo aviso se vos aplica. Acalmai as erecções até terminar de falar, e depois, ao fornicardes, - e mais tarde ireis fornicar - sabereis ser o que espero de vós e que se me desiludirdes, quererei que forniqueis com a minha homúncula imagem retinindo em vossos testículos. Senti como era para mim, como o é para mim, e reflecti. "Foi este tremor o mesmo tremor sentido por ele?" "Conheceu ele um mais profundo?" "Ou há uma parede de desventura na qual as cabeças todas batem naquele luminoso e breve instante?" E pronto, foi este o meu prólogo. Nada em rima, nenhum protesto de modéstia; espero que tal não esperásseis. Eu sou John Wilmott, segundo Conde de Rochester, e não desejo ser apreciado por vós.



E ali jaz ele por fim, o convertido da última hora, o pio devasso. Não sei deixar ficar as coisas pela metade, pois não? Dai-me vinho e emborco-o todo, atirando a garrafa vazia ao mundo. Mostrai-me Nosso Senhor em agonia e eu trepo pela cruz e roubo os pregos para as minhas mãos. Ali vou eu, esquivando-me ao mundo, a baba caindo sobre uma Bíblia. Olho a cabeça de um alfinete e vejo anjos dançar. Então? Gostais de mim agora? ... Gostais de mim agora? ... Gostais de mim agora? ... Gostais de mim... agora?


Eu adorei.

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