Monday, September 01, 2008

Tenho saudades. Tenho sempre saudades de estar aqui. Na minha cadeira, na minha cama, na minha cozinha, na minha banheira a usufruir do meu chuveiro de pressão, na minha sala, com a minha mãe à distância de um braço. O cheiro das coisas daqui é diferente. É um cheiro que lembra muita coisa, e que conforta por ser tão familiar. Quando chego mais cansada e saturada, e me deito na cama, imediatamente rendida ao calor dos lençóis, desperto de manhã e ainda com os olhos fechados, sei imediatamente onde estou. O peso do cobertor é diferente, o colchão, um tudo nada mais largo é mais confortável e as responsabilidades ficaram longe. Há espaço, o conhecimento de todos os cantos à casa. As pessoas de quem gosto e que chegam a sentir o mesmo que eu. Há saudades para matar, novidades para contar, corpos para abraçar, olhos para encontrar, uma infinidade de coisas únicas e próprias que não são explicáveis. Bem sei, bem sei que existem outros sítios, agora, longes daqui, que também já me fazem suspirar. Pessoas e lugares. Conversas, presenças. Já existem algumas coisas, a que estou ligada, permanentemente, irremediavelmente, longe daqui. Já existem pedras na calçada, moldadas aos meus pés que não me levam aos caminhos do costume, da familiaridade infantil, habitantes da memória. Conforme os dias se seguem, viram-se novas páginas da minha vida que, impregnadas do meu cheiro, sempre o mesmo, me vão afastando e aproximando, ao que parece daquilo que sou. É autêntico. É autêntica a minha divisão, a multiplicidade que vai surgindo e que vou distribuindo por aqui e por ali, para permanecer em todo o lado. Gosto. Gosto do sabor do ar, que naqueles momentos especiais de retorno e de desprendimento me sabem a ameixas frescas, sumarentas, que deixam os lábios e a alma doces. Vivo a expectativa das nuvens e das estrelas que, diferentes por enquadramento, são as mesmas onde quer que se vislumbrem.

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